Pra você esquecer de desistir

Acordei atrasada pro trabalho. Pela janela do quarto vi a garoa que caia fazendo jus a essa cidade. Tomei banho, me arrumei correndo, dei um amasso na minha cachorra e sai.
Enquanto descia as escadas do meu prédio, fui agradecendo por mais um dia, já é um ritual. Saio agradecendo e pedindo proteção.
Sai da portaria e fui em direção ao ponto de ônibus. A chuva apertou enquanto esperava la com mais 7 pessoas. Quando entrei no ônibus e fui passar pelo cobrador, meu saldo do bilhete deu inválido. Tentei recarregar logo ali e não esta disponível. Não tinha um puto no bolso. Calcei minha cara de pau e pedi pro cobrador pra descer na frente. Ele perguntou se eu não tinha direito e quando disse que não, prontamente permitiu.
Aquilo foi o suficiente pra acabar com o meu dia, às 9h03 da manhã de uma quinta feira. Desci no ponto e fui em direção ao metrô, molhei meu sapato inteiro na chuva, várias pessoas esbarraram em mim e quase me derrubaram. Chegando lá, o mesmo problema de não conseguir passagem. A essa altura já estava no meu esgotamento.
A quem lê essa crônica pode pensar que é exagero e puro drama barato. Mas sabe quando você ta num estágio que só falta uma gota pra transbordar? Então!
Continuando a saga pra chegar ao trabalho, fui ate outra estação, consegui carregar o bilhete e pedi um cabify pra não chegar  mais atrasada do que já estava.

 

Esperei mais de 10 minutos na calçada de uma loja quando o seu Genildo chegou. Super simpático, já foi logo me contando sua vida, da sua filha ariana que se parece comigo, do seu filho que morreu, de Alagoas que é de onde ele veio. E sem perceber também comecei a falar da minha vida, da minha família, da minha faculdade e das dificuldades de morar sozinha e viver sem dinheiro.
Ele me disse que a vida é assim mesmo, e que tem muito perrengue pela frente. Me elogiou pela maturidade tão nova e disse que meus pais devem ter orgulho de mim.
Quando me dei conta já estava chorando no banco de trás e ouvindo ele dizer: ‘’você tem cara de chorona mesmo’’ – pra me fazer rir -.
Conversa vai, conversa vem eu chego na rua do trabalho, me despeço dele e tento começar a rotina normal. Com os pés encharcados, os olhos inchados e sem humor. Quem me conhece sabe da minha falta de humor, ainda mais pela manha.
Tomei meu café e comecei a pensar em como esses encontros que a vida nos proporciona são realmente incríveis. O quando é valioso dividir a vida com o outro, mesmo que por 20 minutos. O quanto é bom estar aberto pra ouvi, aprender e ensinar algo sobre a vida.  

 

As coisas ainda estão meio difíceis. Um batom vermelho pra colorir o dia cinza, um carinha com chaveco barato aqui, uma saudade esquecida ali. Mas confesso que esse encontro com ele fez meu dia mais leve e deu mais força de seguir.

 

Provavelmente eu nunca mais vou esbarrar com ele na vida, mas nunca se sabe o que o destino nos reserva.
Desejo que você encontre um seu Genildo do caminho pra esquecer de desistir.

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