Depois que me deixou passei a dormir antes das 23h. Talvez para evitar pensar tanto em você, talvez porque meu corpo estivesse precisando mesmo descansar.
Passei a evitar observar o caminho de volta do trabalho até a minha casa, afinal, era meio impossível não lembrar das vezes que você – quase- sempre errava essa rota pra me deixar em casa. Mudei a playlist do celular porque não fazia sentido me torturar ouvindo musicas que me remetessem a nossa história. Não precisava de nada para lembrar, minha cabeça já fazia por si só.
Pensei diversas vezes em faltar o trabalho e ficar em casa para evitar que qualquer coisa trouxesse lembranças suas. Não foi possível, aceitei que nenhum trabalho aceita atestado de saudade, vesti as máscaras de pessoa com coração intacto: batom vermelho pra combinar com os sangramentos, jeans destroyed fazendo jus ao coração e fui.
Apaguei o histórico de conversa como quem quer deletar todos os sentimentos do coração. Passei pela galeria do celular e tentei apagar as fotos na esperança de esquecer o seu rosto e as diversas pintas que você tem no braço. Fracassei. Não consegui deletar as fotos e muito menos o seu rosto do meu consciente.
Passei a frequentar lugares que você jamais iria na esperança de não querer te levar e dizer: ‘’ esse lugar é a nossa cara’’.Passei a adoçar o café, contrariando o seu gosto pelo amargo. Voltei a pedir Frappucino de choco chip com menta ao invés de Frapuccino de café. É injusto que você tenha me apresentado o melhor frappucino do mundo, na minha cafeteria preferida.
Voltei a ouvir músicas que você odeia pra não querer te enviar sabendo que iria adorar. Tinha uma playlist inteira preparada pro próximo dia que quisesse pegar estrada sem destino. Voltei a beber. Mais uma tentativa frustrada de não querer o teu colo quando o mundo é cruel demais com os meus sonhos.
Faziam questão de me perguntar se estava bem, todo santo dia. E numa tentativa de fazer tudo sumir, dizia que sim. Balela! Bem mesmo eu estaria se o seu bom dia ainda fosse o meu despertar e o boa noite fosse o mesmo que um sonífero.
E você foi, sem indício de dar meio volta e ficar pra sempre. Talvez agora eu entenda que depois da sua partida a porta permaneceu fechada mas eu, na minha insistência disfarçada de fé no amor, achava que ainda tinha uma fresta aberta. Ilusão!
Passei por dias difíceis e ainda passo. Longe de mim bancar a durona e dizer que ainda não lembro das veias saltadas da sua mão. Talvez meu corpo nem estivesse pedindo descanso, talvez dormir cedo fosse uma alternativa para parar de pensar em você. Estratégia que não deu certo, confesso, meu coração insiste em colocar você nos meus sonhos-pesadelos.
Mas como toda dor de amor, passa. Passa porque a vontade de viver não pode ser maior que uma saudade em vão. Passa porque a idade de amores impossíveis já foi e agora o que faz o coração acelerar, é paz de espírito.